Assessora da Presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professora da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Juliane Furno conversou com o Brasil de Fato para explicar alguns pontos sobre um debate que tem sido tão frequente no noticiário e no governo Lula: a taxa de juros alta e as consequências dela para a população e para a economia do país.
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Nos tópicos abaixo, Juliane esclarece por que a taxa básica de juros da economia, conhecida como Selic, não é um remédio eficiente para conter inflação, que inclusive vem baixando nos primeiros meses do governo Lula. Ela demonstra ainda que o Banco Central no Brasil não é autônomo, mas sim defensor de interesses de uma minoria que se beneficia a partir de juros altos.
O que é taxa de juros?
A taxa de juros é o “preço” do dinheiro, é quanto o sistema bancário paga de prêmio para aquela pessoa que opta em poupar esse dinheiro. Isso é importante, já que ter poupadores de um lado permite ter investidores de outro. Ou seja, o crédito é criado, embora depois possa ser multiplicado a partir da poupança de alguém.
Mas não só isso, a taxa de juros regula a “liquidez” do sistema financeiro, ou seja, o quanto tem de dinheiro na economia. Se a taxa de juros está baixa, há estímulos para as pessoas pegarem mais dinheiro emprestado, ampliando a liquidez do sistema. Se a taxa está elevada, há tendência aos bancos reterem dinheiro.
Como a taxa de juros alta afeta a população e o país?
A taxa de juros pode estimular ou contrair o crédito, deixando-o mais barato (em períodos de taxas baixas) ou mais caro (em períodos de taxas altas). O custo do crédito é um dos principais fatores que interferem na decisão de investimento dos empresários. Se a taxa de retorno do investimento for menor que a taxa de juros, o empresário investe em títulos públicos, e não em produção. Se ele não produz ou não amplia seus investimentos, ele não gera empregos, nem arrecadação tributária nem oferta de bens dos quais precisamos. Então, podemos dizer que o emprego/desemprego tem relação estreita com o nível da taxa de juros.
Por que a Selic está alta, em 13,75% ao ano?
Um argumento é que ela beneficia os mais pobres porque seria o remédio para conter a inflação. Mas na prática não é bem assim, depende de que tipo de inflação há na sociedade e quem se beneficia dela. No primeiro governo de Dilma Rousseff, a inflação ficou um pouco mais elevada. Os motivos eram o custo da energia e do petróleo, por exemplo, e também o fato de que o preço dos serviços estava mais alto.
Dessa forma, aumentar a taxa básica de juros não tem efeito sobre o primeiro tipo de inflação (de custos) e tem um efeito perverso sobre o segundo (preço dos serviços) porque quem presta serviços, principalmente os pessoais, são os mais pobres (pedreiro, manicure, empregada doméstica etc) e quem usa esses serviços é a classe média, média alta. O aumento das taxas de juros causa desemprego e queda do crescimento econômico, e isso diminui o custo dos serviços. O sistema financeiro se beneficia, sobretudo o setor bancário, que empresta tendo como base a taxa básica de juros. Ou seja, quem vive de rentismo se beneficia.
Que grupos defendem juros altos para o país?
São basicamente dois grupos: o sistema bancário e o sistema financeiro. O bancário defende porque tem uma parte da sua operação em renda fixa. Quando a taxa está mais elevada, as pessoas investem mais nessas operações e o banco tende a ganhar mais, porque ele mesmo é o detentor de grande parte dos títulos de dívida pública brasileira, que é remunerada a partir da taxa básica de juros.
O setor financeiro lida com renda variável – ações, compra de títulos que dão direito a uma renda futura de dividendos e lucros. A estabilidade de preços é uma das coisas mais importantes em uma economia financeirizada. Até porque no valor de face desses títulos e ações é descontada a inflação. Se ela está muito alta, ela corrói o valor desses títulos. O setor financeiro se…
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