O diretor-geral da corretora de criptomoedas Binance no Brasil, Guilherme Haddad Nazar, está nesta quinta-feira (14) prestando depoimento aos deputados que fazem parte da CPI das Pirâmides Financeiras.
Nazar, que é sobrinho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi convocado para dar explicações sobre a suposta relação da Binance com pirâmides financeiras investigadas pela CPI, como a GAS Consultoria e Braiscompany.
Os problemas regulatórios que a Binance enfrenta no Brasil também devem pautar as discussões de hoje, já que a corretora é alvo de um processo administrativo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela suposta oferta irregular de derivativos para brasileiros, como mostrou reportagem do Portal do Bitcoin.
Acompanhe o depoimento ao vivo no vídeo abaixo:
Nazar teve na quarta (13) um habeas corpus aprovado pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, que lhe permite ficar em silêncio durante a audiência de hoje da CPI.
O ministro concedeu parcialmente a liminar para manter valendo a convocação, mas assegurar ao executivo o “direito ao silêncio e a garantia de não autoincriminação, se instado a responder perguntas cujas respostas possam resultar em seu prejuízo ou em sua incriminação”.
Binance se diz “vítima” das pirâmides
Ao iniciar sua rodada de perguntas, o relator da CPI, Ricardo Silva (PSD-SP), expôs uma curiosidade para Nazar: “É bom o senhor saber: tudo que é esquema fraudulento que estamos apurando nesta CPI o pessoal fala da Binance, é incrível isso. Todo mundo transacionou, tinha criptoativos lá. Isso tem que servir de mola propulsora para alguma análise aí”, sugeriu Silva.
O diretor da Binance então declarou que a corretora era apenas uma “vítima” das pirâmides financeiras.
“Somos vítimas reputacionais desses maus atores. Gostaria de reiterar que em todas as investigações trabalhamos de maneira muito próxima das autoridades, inclusive dessa CPI, compartilhando todas as informações que são pedidas nos ofícios”, garantiu Nazar.
O discurso de que a Binance era vítima dos piramideiros foi repetida diversas vezes ao longo do depoimento, também quando o presidente da CPI, Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), perguntou por que a corretora deixava os líderes de pirâmides como a GAS Consultoria, Rental Coins e Braiscompany, transacionar na corretora.
Nasar disse então que a Brascompany nunca possuiu uma conta na Binance, nem tinha qualquer relação com a corretora. Mais uma vez, garantiu que a exchange tem regras rigorosas de compliance.
Ricardo Silva mais uma vez pediu para o executivo explicar a “relação íntima” das maiores pirâmides do Brasil com a Binance.
“Não há qualquer relação íntima. Nós temos um processo de compliance robusto e que se tornará cada vez mais robusto, faz parte do processo evolutivo de conformidade regulatória. Quanto tais agentes usam nosso nome, é uma calúnia a nossa reputação, somos vítimas”, repetiu Nazar.
O deputado então trouxe à tona uma informação da Capitual, ex-processadora de pagamentos da Binance que agora protagoniza uma briga com a corretora na Justiça, que disse que uma análise feita pela empresa AML Reputacional, identificou que os 700 maiores usuários da Binance foram classificados com 95% de chances de estarem fazendo lavagem de dinheiro na plataforma.
Nazar negou ter conhecimento sobre esse estudo e recomendou que os deputados cobrassem o documento da Capitual. O relator então disse que iria fazer um ofício para que a Binance compartilhe com a CPI a lista dos seus 700 maiores clientes no Brasil.
Ao final da audiência, esta reportagem será atualizada com todos detalhes do depoimento. Volte em breve.
Por que a Binance está na CPI das Pirâmides
Guilherme Nazar foi convocado a prestar depoimento na CPI das Pirâmides Financeiras na condição de testemunha pelo deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL). No requerimento, o parlamentar justificou que, embora a Binance seja a maior exchange de criptomoedas no mundo, ela não tem sede própria no Brasil e atua através da empresa B Fintech Serviços de Tecnologia.
O deputado relembra que a corretora e seu fundador, Chagpeng “CZ” Zhao, são alvos de 13 acusações pelos reguladores dos EUA por supostamente “manipular fundos de clientes, bem como mentir para reguladores e investidores”.
Também cita o processo que a CVM reabriu contra a Binance por supostamente continuar ofertando derivativos para brasileiros, mesmo após stop order da entidade.
“Não bastassem os problemas associados à regulação e à oferta de produtos indevidos, soma-se a possível parceria a empresas brasileiras que oferecem serviços financeiros que correspondem, ipsis litteris, ao escopo do que a ementa do requerimento de criação desta CPI se propõe a investigar”, escreve Gaspar.
Ele cita como exemplo o bloqueio de R$ 500 mil da Binance pela Justiça de São Paulo em ação movida por uma vítima da empresa Ever Operações e Investimentos, que prometia rendimentos garantidos de 5% a 8% ao mês.
O deputado também relembra o caso da pirâmide financeira Braiscompany, que culpou a Binance por não ser capaz de pagar os clientes devido ao suposto bloqueio de contas.
“Podemos deduzir que a Binance está imbricada inteiramente com a motivação desta CPI e se torna fundamental compreender sua atuação no país, sua relação com a B Fintech (sua representante oficial), bem como sua ligação com empresas que respondem judicialmente por lesarem consumidores brasileiros”, finaliza o parlamentar.
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