Basta atravessar a avenida Faria Lima, no centro financeiro de São Paulo, para ir do prédio do Itaú BBA, no número 3.500, ao BTG, no 3.477. Apesar dos poucos passos entre os dois edifícios espelhados característicos da região, uma transação financeira entre os dois bancos ganhou destaque no noticiário no final de agosto. Foi a primeira transferência interbancária realizada com o real digital. Batizado no mês passado, o Drex é uma versão tokenizada da moeda brasileira, que utiliza a tecnologia do blockchain (a mesma das criptomoedas) para liquidação e registro das transações. Trata-se da versão brasileira de uma moeda digital de banco central, ou CBDC, na sigla em inglês. Não somos os primeiros a fazer experimentos do tipo – são mais de 130 países com projetos ou planos de CBDCs, que representam mais de 90% do PIB global. Mas as especificidades do projeto, e o pioneirismo do mercado financeiro brasileiro, atrai olhares ao redor do mundo para nossos testes.
Apesar de ser o mais atual, não é só o Drex que ilustra a vanguarda brasileira. Com o Pix, fomos alçados ao pódio entre os pagamentos instantâneos mais bem-sucedidos do mundo. Menos de três anos após seu lançamento, já supera todas as outras formas de transacionar dinheiro no país, como cartões de crédito, débito ou boleto. E talvez o dado mais surpreendente seja que o Pix não abocanhou parte do valor transacionado pelos métodos mais tradicionais: mesmo após sua criação, houve um incremento expressivo da quantidade de transações com cartões de débito e pré-pago, segundo o Banco Central.
Outra imagem da agenda de inovação promovida no Brasil pelos reguladores em parceria com os bancos, fintechs e demais instituições financeiras é o open banking. Ao lado de Austrália e Cingapura, é um dos países cotados para superar os avanços do Reino Unido – pioneiro nessa área. Quem pontua isso é um relatório produzido no início deste ano pela consultoria especializada (e nascida no Reino Unido) Open Banking Excellence (OBE). Segundo eles, no Brasil, foi necessário menos de um ano para alcançar 5 milhões de adesões ao open banking, um marco que demorou quase cinco anos no Reino Unido. Hoje, já são cerca de 38 milhões de consentimentos. O relatório analisou 23 países em mais de 150 aspectos, e aponta a atuação do Banco Central, que participa como mediador para facilitar o diálogo entre todas as instituições. A união do mercado financeiro para construir as bases para serviços e produtos também é destacada.
O processo é longo – e sem data para terminar
Inovações como tokenizar uma moeda fiduciária, no entanto, não vêm desacompanhadas e não são construídas do dia para a noite. Muito do que vemos hoje é fruto de um trabalho que começou anos atrás. Alguns olham para os anos 1980 e 1990 e citam que esse pioneirismo brasileiro é fruto da hiperinflação, que fez com que as instituições financeiras se vissem forçadas a desenvolver produtos sofisticados. Mas esse pioneirismo não foi construído apenas daí.
“Muito do que temos feito no mercado financeiro nos coloca num patamar diferenciado perante outras geografias. Foi um processo e tivemos marcos interessantes. A internet começou a ganhar tração na década de 1990, e um banco brasileiro já lançou o primeiro website disponibilizando consultas na internet em meados de 1995. Na sequência, lançamos, em meados de 2000, alguns dos primeiros aplicativos mobile. E, olhando para os aplicativos de hoje, os bancos brasileiros estão entre os mais completos na comparação com as demais geografias”, afirma Carolina Sansão, diretora de inovação da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Mais recentemente, o impulso veio do boom das fintechs, que começaram a trazer para o mercado serviços inovadores e alcançaram escala suficiente para fazer frente aos tradicionais bancões. Em um misto de parceria e concorrência, essas novas empresas fizeram também com que os bancos precisassem se reinventar. Esse processo encontrou, ainda, um regulador disposto a impulsionar a competição. Se o setor bancário no país é historicamente inovador, é também concentrado, um problema que se reflete em taxas altas para os clientes. Em 2016, o Banco Central passou a buscar na inovação tecnológica soluções para isso, com a Agenda BC+. Rebatizada de Agenda BC#, em 2019,…
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