05/10/23
Em gravações obtidas por O Joio e O Trigo e Repórter Brasil, falas atribuídas a um executivo do Itaú Unibanco revelam que o diretor de agronegócio da instituição, Pedro Barros, teria atuado para autorizar um financiamento à AgroSB, apesar do histórico de infrações ambientais da empresa, autuada diversas vezes por desmatamento na Amazônia.
A AgroSB é o braço agropecuário do Grupo Opportunity, fundado pelo banqueiro Daniel Dantas. Atualmente, a companhia conta com 13 fazendas na Amazônia. Nas propriedades, há produção de soja, milho e cacau, além de pastagens para um rebanho de 110 mil cabeças de gado.
Nos últimos 15 anos, a Agro SB recebeu R$ 344 milhões em multas ambientais, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis). O órgão federal mantém duas áreas da empresa embargadas, ou seja, proibidas para exploração.
A modalidade do crédito de R$ 25 milhões, aprovada pelo Itaú no ano passado, não contradiz as normas do Banco Central para questões socioambientais. Embora não haja irregularidades, especialistas afirmam que o empréstimo coloca em xeque a política de sustentabilidade do banco e de outras instituições financeiras brasileiras.
Num áudio atribuído a Guilherme Treu, coordenador de estratégia ESG (governança socioambiental) do Itaú, ele afirma que Barros insistiu pela aprovação do financiamento, mesmo após o time de análise socioambiental do banco classificar a Agro SB como um cliente de “risco alto”.
Os arquivos teriam sido gravados durante reunião de Treu com sua equipe no dia 24 de maio de 2022. Na ocasião, integrantes do time de sustentabilidade falavam sobre um encontro, realizado dias antes, do Comitê de Risco Social, Ambiental e Climático (CRSAC) do Itaú Unibanco. Dentre outras atribuições, o CRSAC tem a função de avaliar o histórico dos clientes.
Na fala atribuída a Treu, ele define a Agro SB como “um cliente que Pedro Barros [diretor de agronegócio] está tentando aprovar”. Ainda segundo o áudio, o diretor de risco do Itaú, Matias Granata, teria chancelado a concessão do empréstimo, mas com a seguinte ressalva a Barros: “Só não esquece que você me trouxe um caso de 91 autuações.”
Ainda de acordo com os arquivos, a discussão sobre a reputação do banco foi colocada sobre a mesa durante a reunião do CRSAC. “Eu entrei lá e falei ‘ó gente, ele [Agro SB] é risco alto, ele não tem práticas condizentes com o nosso Plano Amazônia”, afirma a pessoa apontada como Treu.
“Reputacionalmente o banco precisa desse cara? A gente precisa trabalhar com esse tipo de cliente, que já foi carimbado como um dos maiores desmatadores da Amazônia?”, questiona.
O Plano Amazônia é uma iniciativa lançada em 2020 por Itaú, Bradesco e Santander para a “promoção do desenvolvimento sustentável” da região. Dentre os chamados “objetivos prioritários”, estão o estímulo ao desmatamento zero na cadeia produtiva da carne e a articulação de um compromisso pelo respeito à legislação ambiental em todo o setor.
ÁUDIO
A Agro SB afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “todas as áreas operacionais da companhia onde há produção de soja, milho ou pastejo de boi não possuem embargo. Os embargos apontados estão em áreas que naturalmente não deveriam possuir nenhuma atividade (Reserva Legal)”.
A nota informa ainda que, dos dois embargos ativos apontados pela reportagem, um está em fazenda ocupada “por invasores que estão cometendo os crimes de invasão, desmatamento e impedindo a regeneração natural” da área. Sobre o outro, a AgroSB sustenta que já “comprovou ao Ibama que a área está completamente regenerada há anos” e que aguarda resposta do órgão sobre um pedido de desembargo. O Ibama não respondeu aos questionamentos da reportagem.
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