Enquanto acompanha atentamente as medidas de ajuste fiscal promovidas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o investidor estrangeiro já se sente seguro para aplicar recursos no Brasil principalmente em razão da política monetária executada pelo Banco Central em resposta à crise gerada pela pandemia de Covid-19. Essa é a análise que faz Alex Fusté, economista-chefe global do Andbank, grupo financeiro europeu com sede em Andorra, presente em 11 países e especializado em private banking.
“O Brasil foi o primeiro a elevar as taxas de juros e mais do que qualquer outro país, deixando as taxas reais em terreno muito positivo, o que deu credibilidade à moeda e aos ativos”, diz Fusté, que esteve no Brasil para inaugurar um escritório do banco em Curitiba. “Portanto, em 2022 e sobretudo no primeiro trimestre de 2023 houve um grande fluxo de capital para o país graças a uma política monetária crível, ortodoxa e confiável.”
Se por um lado a parte monetária tranquiliza o investidor, a política fiscal desperta mais incerteza. “Essa é uma questão pendente em muitas economias latino-americanas. Há uma certa tradição de descontrole orçamentário e fiscal que pode levar a uma crise de dívida”, diz o economista.
O Brasil se sai melhor nessa área que boa parte dos vizinhos, e Fusté diz ver um esforço do governo em sinalizar ao mercado um controle das finanças públicas. A questão é entregar o prometido: “O que esperamos é que essas reformas que foram anunciadas se cumpram”, enfatizou o economista na entrevista à Gazeta do Povo, concedida em 24 de outubro, dias antes de Lula indicar que não cumprirá a meta do arcabouço das contas públicas.
Fusté também comentou sobre a guerra no Oriente Médio e a situação econômica da Argentina. Fez críticas contundentes à política econômica do atual governo e vê um futuro sombrio em caso de eleição do atual Ministro da Economia, Sergio Massa: “Desejo aos argentinos o melhor, toda a sorte do mundo, mas tenho medo que não a tenham”.
Confira a seguir a entrevista com Alex Fusté, economista-chefe global do Andbank:
Gazeta do Povo – De que forma o senhor avalia a situação do Brasil e a política econômica do atual governo?
Alex Fusté – O investidor estrangeiro observa duas coisas ao canalizar seu dinheiro para um país emergente. Em primeiro lugar, uma disciplina monetária e, em segundo, uma disciplina fiscal. O capital estrangeiro, em países com tradição cambial volátil, não quer sofrer essa volatilidade, porque o que você pode ganhar investindo no país também pode perder com a desvalorização da moeda. E a forma de garantir tranquilidade aos seus investimentos é levar o dinheiro para países que executam uma política monetária e fiscal ortodoxa.
Em relação ao primeiro, a política monetária do Brasil tem
sido muito boa, muito correta, muito ortodoxa. O Brasil foi o primeiro a elevar
as taxas de juros e mais do que qualquer outro país, deixando as taxas reais em
terreno muito positivo, o que deu credibilidade à moeda e aos ativos. Portanto,
em 2022 e sobretudo no primeiro trimestre de 2023 houve um grande fluxo de
capital para o país graças a uma política monetária crível, ortodoxa e
confiável.
Aí entramos na perna fiscal. Essa é uma questão pendente em muitas economias latino-americanas. Há uma certa tradição de descontrole orçamentário e fiscal que pode levar a uma crise de dívida. Esse não é o caso do Brasil, que entre as economias que administramos na América Latina é uma das mais confiáveis. Porque há por trás uma história econômica muito poderosa, na medida em que conta com uma grande indústria exportadora de ferro, soja, farinha e tantas outras coisas. Isso faz com que haja muitas reservas internacionais no Banco Central do Brasil. Há muitos dólares que respaldam a moeda, e o respaldo da moeda torna todos os ativos mais estáveis de alguma forma.
Também gostamos de ver que há um esforço governamental sob a forma de uma reforma fiscal para sinalizar ao mercado um controle das finanças públicas. Investidores estrangeiros têm muito medo quando em um país há falta de controle das finanças públicas, como é o caso da Argentina, por exemplo. Agora para o Brasil o que esperamos é que essas reformas que foram anunciadas se cumpram. Uma coisa é dizer, e outra é cumprir. Precisamos que seja como…
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